© Ki-hong Kim/Sung-Il Kim/Corbis
O
leite de vaca vem sendo vulgarmente considerado um vilão sob a alegação de que
fazem mal à saúde do intestino.
De
acordo com o Charak Samhita, o grande sábio da Ayurveda, o leite é um néctar
para o organismo humano. Desde os tempos ancestrais na Índia, os Hindus
consideram as vacas como Grandes Mães sagradas e os tradicionais “Vaydias”
(médicos ayuvédicos) dão ênfase ao leite como um alimento curador que promove a
vitalidade, força e rejuvenescimento.
Para
a nutrição ayurvedica o leite é considerado doce, frio e com um efeito
pós-digestivo doce. Diminui Pitta e Vata, e aumenta Kapha, podendo diminuir o
fogo digestivo. Os aminoácidos
encontrados nas proteínas do leite são necessários para o bom funcionamento do
cérebro e do sistema nervoso. Ele também contém cálcio, que beneficia o sistema
nervoso, fósforo e ferro que favorecem o sangue e os olhos, assim como diversos
minerais, sendo um alimento tão completo para o organismo humano que é freqüentemente
considerado um medicamento.
O
leite é tônico, rejuvenescedor, nutritivo, afrodisíaco, calmante e laxativo.
Ele é particularmente nutritivo para o plasma e para a pele e, através deles,
todos os outros tecidos, sobretudo o reprodutor. É um bom tônico para os
pulmões e estômago e para problemas hemorrágicos nestes locais. O leite também
é benéfico em caso de tosse seca,
garganta seca, febre e sede. É um
laxativo moderado, sobretudo se for tomado quente e com ghee, e é eficaz para a
maioria dos tipos Pitta. É um alimento excelente para as crianças, para os mais
velhos, debilitados e convalescentes. O
leite é altamente Sáttvico, nutritivo para o cérebro e os nervos. Ele fortifica
a mente, memória, a intuição e Ojas (vitalidade), aumenta o contentamento,
favorecendo a concentração e meditação.
Ajuda a promover o sono, sobretudo se ingerido quente e associado com especiarias
nervinas como a noz moscada.
Para
facilitar a sua digestão, basta combiná-lo com especiarias redutoras de
muco e umidade como o gengibre, o cardamomo, a
canela e a cúrcuma (açafrão da terra).
O
seu consumo é contra-indicado, principalmente se consumido frio, em condições
Kapha (com presença de muco) e em presença de Ama (toxinas), artrite ou gota,
ou em caso de intolerância à lactose e/ou alergia à proteína do leite.
© Frederic Soltan/Sygma/Corbis
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Intolerância x alergia ao leite
A
Lactose (o açúcar do leite) é digerida por uma enzima específica, produzida
pelo intestino delgado, a Lactase. A intolerância ao leite se caracteriza pela
não produção ou pela produção insuficiente da Lactase.
Simplificando:
a Lactose chega ao intestino e não é digerida propriamente, o que abre espaço
para que as bactérias presentes na flora intestinal o façam, produzindo reações
e subprodutos irritantes para mucosa do intestino (gerando cólica, gases e náusea).
Para se livrar desses corpos estranhos, o intestino se “lava” com água, causando
a diarréia.
Num
organismo normal, que foi amamentado e permaneceu ingerindo leite ao longo da
vida, a Lactase é produzida regularmente e o leite é digerido sem problemas.
Mas, quando a pessoa desmama (deixa de tomar leite por longos períodos) o
organismo deixa de produzir definitivamente essa enzima, tornando-se
intolerante.
Nos
derivados de leite, como iogurte e queijo, as bactérias já fizeram essa pré-digestão
no processo de fermentação, portanto, normalmente a ingestão desses produtos
não causa reações incomodas.
A
intolerância à Lactose é uma falha genética e deve ser respeitada, substituindo
o leite por produtos alternativos que contenham cálcio como brócolis, repolho-chinês,
couve, mostarda, feijão azuki, batata-doce, feijão branco, espinafre e gergelim.
Outra
situação comum é a alergia à proteína do leite (uma hipersensibilidade do
sistema imunológico). Nesse caso, o consumo de derivados do leite também deve
ser suspenso, pois, eles também causarão efeitos indesejados.
Portanto,
se você não é um intolerante à Lactose, deixar de consumir leite de vaca é uma
medida preventiva desnecessária que te privará do consumo desse néctar.
O leite é um alimento funcional e prebiótico, demonstrando
benefícios fisiológicos ao organismo e/ou reduzem o risco de doenças crônicas,
além das suas funções básicas nutricionais.
O nosso trato gastrointestinal abriga uma microbiota com mais de
500 espécies de microorganismos que convivem em contínua competição pela
sobrevivência, e essa competição se mantém em equilíbrio até que este se
desfaça pela dieta inadequada, tratamentos com antibióticos, quimioterapia ou
estresse. Uma das funções dessa microbiota é defender o organismo do hospedeiro.
Dentre as espécies que se sobressaem, estão os lactobacillus e os
bifidobacterium.
Os alimentos pré-bióticos, como o leite, são fermentados de
maneira seletiva no intestino, modulando a microbiota positivamente, tornando-a
mais saudável para o homem por propiciar o aumento de ácidos graxos de cadeia
curta (desintoxicantes), a diminuição do ph e a diminuição da absorção de
resíduos tóxicos como a amônia.
Uma
boa estratégia para o aumento do número desse grupo microbiano no intestino é
ingerir alimentos prebióticos que estimularão as estirpes de bactérias bífidas
já existentes no cólon.
© Riou/SoFood/Corbis
A Lactose, ou o açúcar do leite, tem um trânsito lento pelo
intestino permanecendo mais tempo disponível à fermentação. Ela é classificada
como um glícide de estrutura, pois influencia intensamente o metabolismo do
Cálcio, aumentando o coeficiente de utilização desse mineral pelos ossos,
principalmente os longos (osteogênese). Ao se ligar ao cálcio, forma um
complexo cálcio-lactose, muito solúvel e facilmente absorvido, além de aumentar
a permeabilidade da membrana intestinal, facilitando a absorção do Cálcio. Esse carboidrato também auxilia a absorção
indireta de algumas vitaminas, principalmente a K2 (responsável pela coagulação
sangüínea) e a niacina (B3 – ativadora do metabolismo gerador de energia).
Texto escrito por: Marise Berg
Terapeuta
e culinarista Ayurvedica.
Referências bibliográficas
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Vermont:Healing Arts Press, 2000. 264p.
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ROSA. Alimentos funcionais, componentes
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Adorei o texto,me ajudou muito pois o meu bb tem alergia a proteína do leite,então só o de soja e como amamento,a minha dieta também ficou restrita.
ResponderExcluirE o pior no processo alérgico é descobrir o que está embutido,como produtos que contenham a caseína,por exemplo.
Mas isso o pediatra dele já havia me informado,
bjs
Seu artigo leva somente em consideração o que o leite poderia fazer de bom. Contudo, não revela tudo o que o leite faz de mal. E não somente para nós, humanos, como também para as vacas e seus bebês.
ResponderExcluirPara nós, agride o fígado, não é fonte saudável de cálcio, agindo inclusive para eliminar cálcio dos ossos. A taxa de absorção do cálcio do leite está por volta dos 20%, do brócolis, 80%! Fora a quantidade de antibiótico que se ingere junto com o leite e, como seu próprio texto diz, deixa nosso organismo em desequilíbrio.
Para a vaca, alimentada com hormônios e antibióticos para ficar saudável e dar cada vez mais leite, a ordenha por horas a fio representa dor e inflamação, dando ao leite seu sangue e pus. Há ainda outras atrocidades, como um buraco que fazem no couro da vaca e que fica constantemente aberto para facilitar a inspeção do conteúdo de seu estômago, entre outras.
A separação entre mãe e filho representa dor e comoção para a primeira e tortura e morte para o segundo, vendido aos seis meses de idade como baby-beef; nome "bonito"que quer dizer bife-bebê e que esconde a atrocidade pela qual esses pequenos seres vivos passam.
Os vedas indicavam o leite pois com certeza o consumo era mínimo e a ordenha amigável.
Não dá mais para se alimentar da dor e da morte de outros seres para sustentar um gosto que não nos é mais saudável e uma indústria imoral e sem compaixão.
E soja tampouco é solução. Temem leite de aveia ou amêndoa.
Tomem, não temem, leite de aveia ou amêndoas.
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