terça-feira, 14 de agosto de 2012

BEBER LEITE OU NÃO, EIS A QUESTÃO

Close-up of milk carton
© Ki-hong Kim/Sung-Il Kim/Corbis

O leite de vaca vem sendo vulgarmente considerado um vilão sob a alegação de que fazem mal à saúde do intestino.
De acordo com o Charak Samhita, o grande sábio da Ayurveda, o leite é um néctar para o organismo humano. Desde os tempos ancestrais na Índia, os Hindus consideram as vacas como Grandes Mães sagradas e os tradicionais “Vaydias” (médicos ayuvédicos) dão ênfase ao leite como um alimento curador que promove a vitalidade, força e rejuvenescimento.

Para a nutrição ayurvedica o leite é considerado doce, frio e com um efeito pós-digestivo doce. Diminui Pitta e Vata, e aumenta Kapha, podendo diminuir o fogo digestivo.  Os aminoácidos encontrados nas proteínas do leite são necessários para o bom funcionamento do cérebro e do sistema nervoso. Ele também contém cálcio, que beneficia o sistema nervoso, fósforo e ferro que favorecem o sangue e os olhos, assim como diversos minerais, sendo um alimento tão completo para o organismo humano que é freqüentemente considerado um medicamento.

O leite é tônico, rejuvenescedor, nutritivo, afrodisíaco, calmante e laxativo. Ele é particularmente nutritivo para o plasma e para a pele e, através deles, todos os outros tecidos, sobretudo o reprodutor. É um bom tônico para os pulmões e estômago e para problemas hemorrágicos nestes locais. O leite também é benéfico em caso de tosse  seca, garganta  seca, febre e sede. É um laxativo moderado, sobretudo se for tomado quente e com ghee, e é eficaz para a maioria dos tipos Pitta. É um alimento excelente para as crianças, para os mais velhos, debilitados e convalescentes.  O leite é altamente Sáttvico, nutritivo para o cérebro e os nervos. Ele fortifica a mente, memória, a intuição e Ojas (vitalidade), aumenta o contentamento, favorecendo a concentração e  meditação. Ajuda a promover o sono, sobretudo se ingerido quente e associado com especiarias nervinas como a noz moscada. 

Para facilitar a sua digestão, basta combiná-lo com especiarias  redutoras de  muco  e  umidade como o gengibre, o cardamomo, a canela e a cúrcuma (açafrão da terra).

O seu consumo é contra-indicado, principalmente se consumido frio, em condições Kapha (com presença de muco) e em presença de Ama (toxinas), artrite ou gota, ou em caso de intolerância à lactose e/ou alergia à proteína do leite.
City of Udaipur 
© Frederic Soltan/Sygma/Corbis
Intolerância x alergia ao leite
A Lactose (o açúcar do leite) é digerida por uma enzima específica, produzida pelo intestino delgado, a Lactase. A intolerância ao leite se caracteriza pela não produção ou pela produção insuficiente da Lactase.

Simplificando: a Lactose chega ao intestino e não é digerida propriamente, o que abre espaço para que as bactérias presentes na flora intestinal o façam, produzindo reações e subprodutos irritantes para mucosa do intestino (gerando cólica, gases e náusea). Para se livrar desses corpos estranhos, o intestino se “lava” com água, causando a diarréia.

Num organismo normal, que foi amamentado e permaneceu ingerindo leite ao longo da vida, a Lactase é produzida regularmente e o leite é digerido sem problemas. Mas, quando a pessoa desmama (deixa de tomar leite por longos períodos) o organismo deixa de produzir definitivamente essa enzima, tornando-se intolerante.

Nos derivados de leite, como iogurte e queijo, as bactérias já fizeram essa pré-digestão no processo de fermentação, portanto, normalmente a ingestão desses produtos não causa reações incomodas.

A intolerância à Lactose é uma falha genética e deve ser respeitada, substituindo o leite por produtos alternativos que contenham cálcio como brócolis, repolho-chinês, couve, mostarda, feijão azuki, batata-doce, feijão branco, espinafre e gergelim.

Outra situação comum é a alergia à proteína do leite (uma hipersensibilidade do sistema imunológico). Nesse caso, o consumo de derivados do leite também deve ser suspenso, pois, eles também causarão efeitos indesejados.

Portanto, se você não é um intolerante à Lactose, deixar de consumir leite de vaca é uma medida preventiva desnecessária que te privará do consumo desse néctar.

O leite é um alimento funcional e prebiótico, demonstrando benefícios fisiológicos ao organismo e/ou reduzem o risco de doenças crônicas, além das suas funções básicas nutricionais. 
O nosso trato gastrointestinal abriga uma microbiota com mais de 500 espécies de microorganismos que convivem em contínua competição pela sobrevivência, e essa competição se mantém em equilíbrio até que este se desfaça pela dieta inadequada, tratamentos com antibióticos, quimioterapia ou estresse. Uma das funções dessa microbiota é defender o organismo do hospedeiro. Dentre as espécies que se sobressaem, estão os lactobacillus e os bifidobacterium.
Os alimentos pré-bióticos, como o leite, são fermentados de maneira seletiva no intestino, modulando a microbiota positivamente, tornando-a mais saudável para o homem por propiciar o aumento de ácidos graxos de cadeia curta (desintoxicantes), a diminuição do ph e a diminuição da absorção de resíduos tóxicos como a amônia.
Uma boa estratégia para o aumento do número desse grupo microbiano no intestino é ingerir alimentos prebióticos que estimularão as estirpes de bactérias bífidas já existentes no cólon.
 Glass bottle of milk and a plastic cow© Riou/SoFood/Corbis

A Lactose, ou o açúcar do leite, tem um trânsito lento pelo intestino permanecendo mais tempo disponível à fermentação. Ela é classificada como um glícide de estrutura, pois influencia intensamente o metabolismo do Cálcio, aumentando o coeficiente de utilização desse mineral pelos ossos, principalmente os longos (osteogênese). Ao se ligar ao cálcio, forma um complexo cálcio-lactose, muito solúvel e facilmente absorvido, além de aumentar a permeabilidade da membrana intestinal, facilitando a absorção do Cálcio.  Esse carboidrato também auxilia a absorção indireta de algumas vitaminas, principalmente a K2 (responsável pela coagulação sangüínea) e a niacina (B3 – ativadora do metabolismo gerador de energia).

A caseína, uma proteína do leite, produz a exorfina, uma substância similar à endorfina, capaz de se fixar aos seus receptores no cérebro causando um efeito prazeroso. Por isso muitas pessoas desenvolvem avidez pelo leite e seus derivados.                            

Texto escrito por: Marise Berg
Terapeuta e culinarista Ayurvedica.

Referências bibliográficas
JOHARI, Harish. Ayurvedic Healing Cuisine. Vermont:Healing Arts Press, 2000. 264p.
SIZER, Frances; WHITNEY, Eleonor. Nutrição – Conceitos e Controvérsias. 8.e.d.São Paulo: Manole, 2003. 567 p.
SLYWITCH, Eric. Alimentação sem carne. 2.E.D.São Paulo:Alimentação sem carne, 2008. 112p.
COSTA, ROSA. Alimentos funcionais, componentes bioativos e efeitos fisiológicos. Rio de Janeiro, Ed. Rubio, 2010.
PÓVOA, Helion. O cérebro desconhecido. Rio de Janeiro, Ed. Objetiva, 2002. 222p.535p. 

3 comentários:

  1. Adorei o texto,me ajudou muito pois o meu bb tem alergia a proteína do leite,então só o de soja e como amamento,a minha dieta também ficou restrita.
    E o pior no processo alérgico é descobrir o que está embutido,como produtos que contenham a caseína,por exemplo.
    Mas isso o pediatra dele já havia me informado,
    bjs

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  2. Seu artigo leva somente em consideração o que o leite poderia fazer de bom. Contudo, não revela tudo o que o leite faz de mal. E não somente para nós, humanos, como também para as vacas e seus bebês.

    Para nós, agride o fígado, não é fonte saudável de cálcio, agindo inclusive para eliminar cálcio dos ossos. A taxa de absorção do cálcio do leite está por volta dos 20%, do brócolis, 80%! Fora a quantidade de antibiótico que se ingere junto com o leite e, como seu próprio texto diz, deixa nosso organismo em desequilíbrio.

    Para a vaca, alimentada com hormônios e antibióticos para ficar saudável e dar cada vez mais leite, a ordenha por horas a fio representa dor e inflamação, dando ao leite seu sangue e pus. Há ainda outras atrocidades, como um buraco que fazem no couro da vaca e que fica constantemente aberto para facilitar a inspeção do conteúdo de seu estômago, entre outras.

    A separação entre mãe e filho representa dor e comoção para a primeira e tortura e morte para o segundo, vendido aos seis meses de idade como baby-beef; nome "bonito"que quer dizer bife-bebê e que esconde a atrocidade pela qual esses pequenos seres vivos passam.

    Os vedas indicavam o leite pois com certeza o consumo era mínimo e a ordenha amigável.

    Não dá mais para se alimentar da dor e da morte de outros seres para sustentar um gosto que não nos é mais saudável e uma indústria imoral e sem compaixão.

    E soja tampouco é solução. Temem leite de aveia ou amêndoa.

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  3. Tomem, não temem, leite de aveia ou amêndoas.

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